Data : Segunda-feira 27 Março 2006 - Bom Dia DF

Reportagem

Sucesso de público

Renata Gonzaga / Edgar de Andrade

 

O Festival de Poesia de Goiás foi criado para provar que poesia congrega todas as artes. Vai além de versos escritos ou falados. Ela esteve nas notas musicais de Gustavo Tavares, que no altar de Igreja de Nossa Senhora do Rosário ousou declamara “As rosas não falam”, de Cartola, nas cordas de um violoncelo acostumado aos acordes suítes de Bach.

As rosas bachianas encantaram o público espalhado pelo chão da igreja. “Inusitado! Nós voltamos alguns séculos, no tempo em que os concertos eram realizados nas igrejas. Poesia tocada!”, disse Cristiano Verano, produtor cultural.

O festival de poesia elevou ao altar, em praça pública, poetas desconhecidos. Gente da cidade de Goiás, gente que saiu de longe só para recitar versos na terra da poetisa Cora Coralina.

Também se fez poesia quando se formou a ciranda espontânea na praça do coreto. Poesia para crianças no Teatro da Casa de Fundição. Foram quatro dias e noites em que se respirou versos. A ordem era não falar, mas recitar. Na mesa de debates ou na mesa de um bar da praça.

Também se viu poesia nos quadros da artista plástica Marta Barros, que traduziu em cores os versos do pai poeta, Manoel de Barros, o homenageado do festival. “Foi muito difícil por causa da responsabilidade. Uma coisa é fazer um trabalho meu. Outra coisa é ilustrar o trabalho de um poeta como Manoel de Barros”, disse Marta.

Nas contas da prefeitura, pelo menos 15 mil pessoas circularam pela cidade e o faturamento nos hotéis aumentou cerca de 20%. “Quem conserva a cidade é a população. É o espírito que habita a cidade. Se não tivesse pessoas, Goiás Velho poderia ser uma cidade fantasma. Ao tratar do patrimônio, é preciso se tratar da alma e das pessoas que moram na cidade”, afirmou Luis Fernando de Almeida, presidente do Iphan.

O festival de poesia trouxe recursos, renovou monumentos e conquistou novos turistas para Goiás Velho. Mas ainda é cedo para saber exatamente o que o evento proporcionou às pessoas que circularam pela cidade. Talvez um dia, quando cada uma delas fechar os olhos e ouvir novamente a voz dos poetas goianos, quem sabe será possível compreender que transformação é essa que os versos criam na alma humana.

Talvez o poeta Manoel de Barros tenha a resposta: “Sempre compreendo o que faço depois que já fiz. O que sempre faço nem seja uma aplicação de estudos. É sempre uma descoberta”.