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Suinocultura

Guerra à gordura

Pesquisadores da Embrapa desenvolvem em Santa Catarina novo "porco light", com maior percentagem de carne magra na carcaça


Os tempos do porco criado para produzir banha, abatido com 120 quilos ou mais, estão cada vez mais distantes. O empenho da pesquisa genética suína nos últimos anos está em oferecer animais com maior percentagem de carne magra na carcaça. Esse também é o objetivo da Embrapa, que entrou na disputa com as empresas multinacionais que fornecem programas genéticos para os criadores brasileiros. Seu primeiro lançamento foi o MS58, um animal oriundo do cruzamento da fêmea F1 (landrace e large white) com um macho sintético das raças duroc, pietran e hampshire. O resultado dessa mistura oferece até 58% de carne por carcaça, e seu lançamento foi assunto de capa de Globo Rural (ver "Suinocultura - A vez do porco diet", edição 119, setembro/95).

Infromações: (62) 8412-0018

Depois de difundir essa linhagem entre os criadores do três Estados do Sul, a Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia, SC, e a Coopercentral - Cooperativa Central do Oeste Catarinense, com sede em Chapecó, SC, preparam o lançamento do MS60, definido pelos pesquisadores como "dois passos à frente" em relação ao animal pioneiro. O trabalho no
centro de pesquisa é decorrência do bom retorno do MS58, que chegou ao mercado em fins de 1995. A Embrapa, que considerava o macho sintético "uma revolução na suinocultura", comemora excelentes resultados também na parceria comercial com a Coopercentral, cuja linha de produtos leva a marca Aurora, que fez o papel de multiplicadora. "Hoje, além da cooperativa, há outras seis granjas reproduzindo e comercializando o MS58 no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina.

A boa aceitação gerou uma fila de 200 produtores, que aguardam até um ano para receber o material", relata Jerônimo Fávero, agrônomo da Embrapa e coordenador dos projetos MS58 e 60. A cooperativa ofereceu as instalações e o material genético básico e, recebendo orientação técnica da Embrapa, montou um minilaboratório em uma de suas unidades. Odesenvolvimento do MS60 também é conseqüência das exigências de mercado, que pede maior quantidade de carnes nobres e mais magras por carcaça abatida. O macho sintético, além de avançar no aproveitamento de carne bruta e de ter rendimento superior em cortes como o lombo e o pernil, ainda tem ganho genético significativo em relação a seu antecessor, assegurando a qualidade da carne.

Híbrido das raças duroc, large white e pietran, ele também é livre do gene halotano, identificado no DNA animal como causador de estresse no animal e responsável por duas características negativas de carne. Uma delas, segundo Fávero, seria uma carne pálida, excessivamente macia e exsudativa, perdendo grande quantidade de água e o valor comercial, por se tornar totalmente imprópria para a industrialização. A outra, de acordo com Alderi Miguel Crestani, gerente de produção da Aurora, representa uma carne dura, escura e muito fibrosa, igualmente indesejável para industrialização. Por isso, um dos pontos principais do trabalho de desenvolvimento foram repetidos exames de DNA, feitos na Unicamp - Universidade Estadual de Campinas, SP, que garantiram machos e fêmeas totalmente livres do gene halotano e das características trazidas por ele. Foram três anos de desenvolvimento, entre importações de sêmen, cruzamentos, seleção dos animais com melhor resposta e monitoramento das práticas de manejo.


O lançamento comercial está marcado para o segundo semestre deste ano, na próxima Expointer, em Esteio, RS, enquanto a Coopercentral e a Embrapa realizam novos ensaios com produtores e nos frigoríficos. Na granja Aurora III, em Chapecó, de onde estão saindo os primeiros lotes do MS60, o técnico agropecuário Dirceu Schuck confirma a docilidade e a alta produção de leitões como principais características. "Apesar de ser um animal especial, seu manejo é normal", atesta ele, que confirma a boa conversão alimentar. O novo "porco light" consome, em média, 2,3 quilos de ração para ganhar 1 quilo de peso e fornecer, em alguns testes, mais de 60% de carne na carcaça. "Quando comparado ao MS58, é visível o maior comprimento de carcaça por influência da raça large white", afirma Schuck.

No dia-a-dia, o técnico observou um estresse mínimo entre os leitões e mortalidade quase zero nos agrupamentos. O cruzamento busca essas virtudes dos animais utilizados: a raça pietran, de origem belga, tem boa conformação em largura de lombo e pernil bem desenvolvido, enquanto a duroc e a large white oferecem carne de qualidade e resistência ao estresse. Com a substituição da hampshire pela duroc, conseguiu-se então a resistência ao halotano, que manifestava-se com freqüência em lotes do MS58. "Mais da metade dos integrados da Aurora criam o MS58, e a partir do segundo semestre do próximo ano começaremos a substituí-los pelo MS60", anuncia Crestani. Entre os produtores, é grande o entusiasmo com a chegada do novo material genético. Os irmãos Milton e Luis Angonese, de São Lourenço do Oeste, a 105 quilômetros de Chapecó, permanecem fiéis à cooperativa local associada à Coopercentral, especialmente pelos ganhos de trabalharem com animais que rendem mais na tipificação da carcaça. "Com a queda no preço da carne, isso faz a diferença entre prosseguir ou parar com a produção", diz Milton, que ganha até 11% a mais depois que seus lotes de suínos são tipificados em frigoríficos da Aurora.

A tipificação, com pagamento adicional pela qualidade da carcaça, tornou-se prática corrente nos grandes frigoríficos dos Estados do Sul do país e favoreceu a entrada de novos materiais genéticos, animais com menos gordura e maior percentagem de carne, no mercado. Para a Coopercentral, segundo seu vice-presidente José Zeferino Pedroso, a participação no desenvolvimento do MS60 é uma demonstração prática do esforço da entidade para manter o pequeno produtor competitivo e, assim, evitar o abandono da atividade. Para a Embrapa, o empenho em competir no mercado de genética suína deve-se à necessidade de manter seu trabalho "direcionado para atender demandas concretas da cadeia produtiva", como afirma Dirceu Talamini, chefe do centro de Suínos e Aves.

Além disso, o sucesso do MS58 tem ajudado a sustentar os trabalhos do centro. Na parceria com a Aurora, a Embrapa recebe royalties por animal comercializado e há ainda um sistema de franquias para produtores individuais. Com isso, é possível recuperar parte do investimento e financiar novas pesquisas. Somando-se outras fontes de rendimento, o centro de Concórdia tornou-se, entre as unidades da Embrapa, o que mais se aproxima de uma relativa autonomia financeira, bancando 80% das despesas com custeio, que foram de 1,6 milhão de reais no ano passado .

Carne magra estica preço

Há oito anos, diretores e técnicos da Coopercentral foram ao Canadá conhecer o processo de tipificação da carcaça de suínos, dispostos a introduzir a técnica no Brasil. A idéia era acompanhar a tendência internacional de estimular o produtor com melhores índices de remuneração e obter animais com maior quantidade de carne magra. "Partimos praticamente do zero e pagamos o preço do pioneirismo", lembra Gilberto Vasconcellos, diretor de agropecuária da cooperativa.

O critério da tipificação era basicamente o mesmo que o atual. É medida também a espessura do toucinho, que determina a proporção do lombo no animal, a carne mais nobre e cara do suíno. De acordo com esses cálculos, o produtor recebe um pagamento extra. A técnica da época, porém, era artesanal e o toucinho era medido com uma régua comum.

Hoje os animais abatidos nos frigoríficos da Aurora são tipificados. O produtor está recebendo também pelo percentual de carne magra, e a técnica é muito mais avançada. As réguas foram substituídas pelo renesi, equipamento de origem neozelandesa, que é introduzido na carcaça, junto às vértebras. Uma agulha corta o couro, a gordura e atinge o lombo. Um facho de luz que distingue a diferença de cor entre a gordura e a carne faz a leitura e envia as informações para um conjunto de equipamentos acoplados a um computador, do qual já sai a fatura com a diferença a ser paga para o criador.

O futuro da tipificação será avaliar itens relacionados à qualidade e não somente à quantidade de carne magra de cada animal, prevê Vasconcellos. "Especialmente com a introdução dos animais melhorados geneticamente, serão avaliados aspectos como o pH da carne, sua textura e rigidez. Isso vai impor ao criador cuidados ainda maiores com manejo e nutrição, mas vai lhe remunerar cada vez melhor."


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